quinta-feira, 20 de julho de 2017

EPISTEMOLOGIA

1 Epistemologia

Epistemologia ou Teoria do Conhecimento é o ramo da Filosofia que investiga sobre a problemática do conhecimento. As questões que interessam ao filósofo nesse campo são do tipo: “o que é o conhecimento?”; “quais as origens do conhecimento?”; “quais as possibilidades do conhecimento?” e outras questões congêneres.

1.1 Conhecimento   

Na história da filosofia, ficam evidentes as partes envolvidas no processo do conhecimento, quais sejam: o objeto que é conhecido e o sujeito que o conhece. O objeto do conhecimento nada mais é do que a realidade e o sujeito do conhecimento somos nós, seres humanos. Consideremos as linhas a seguir.
Todas as pessoas do mundo julgam saber alguma coisa, tais como que estão acordadas, que tem dois irmãos, que estão vivas e que João vende sorvete aos domingos. Algo que nos questionamos, entretanto, é: como podemos afirmar que sabemos alguma coisa. O que é condição necessária e suficiente para o conhecimento?
Podemos dizer que conhecimento é uma crença. Mas se eu digo que Napoleão Bonaparte está na minha casa ninguém acreditará. Então eu respondo: Mas eu acredito! Entretanto não consigo imaginar que alguém considere isso verdadeiro simplesmente pelo fato de eu acreditar. Se, por outro lado, eu digo que não existem baleias no oceano, as pessoas também não me darão credibilidade, ainda que eu de fato acredite. Ou seja, parece que a minha crença não torna uma coisa verdadeira nem falsa, o que significa que é insuficiente para dizer que alguém conhece algo.
Mas podemos dizer que conhecimento é crença verdadeira. Nesse caso, proponho a pensarmos numa aposta entre Juca e Antônio. Ambos apostaram entre si cinco palhetas de guitarra, onde, se o Cruzeiro fosse campeão brasileiro de 2014, Juca ganharia a aposta, caso contrário Antônio seria o vencedor. Lembrando que a aposta acontece antes mesmo do campeonato começar. Ao término do campeonato Juca sai vencedor e diz: “Há há há! Eu sabia!”
Será que de fato Juca sabia disso? Ele pode dizer que acreditava que o Cruzeiro seria o campeão, tanto que apostou, mas isso é suficiente para afirmar que ele tinha o conhecimento?
Tudo indica que crença verdadeira não é condição suficiente para fundar o conhecimento. É necessário algo mais.
Então sugerimos que conhecimento seja crença justificada. Nesse caso, pensemos agora no irmão gêmeo, e idêntico, de João que Juca e Antônio não conhecem. É que João mora com a avó, enquanto seu irmão vive com os pais. Juca e Antônio observam de longe o irmão gêmeo de João vendendo sorvete no centro da cidade por três domingos seguidos, o que os leva a acreditar que João vende sorvete aos domingos.
Nesse caso, temos indivíduos que têm uma crença e tem uma justificativa, pois ver com os próprios olhos consiste numa boa justificativa. Entretanto a crença é falsa.
A conclusão disso tudo é que o conhecimento não pode ser meramente crença, nem crença verdadeira, nem crença justificada. O conhecimento é crença, que deve ser verdadeira e ter uma justificação. Então, conhecimento é crença verdadeira e justificada.

1.2 Fontes do conhecimento

Uma das questões fundamentais da teoria do conhecimento pode ser formulada da seguinte forma: onde se origina o conhecimento? Ou ainda: qual a fonte de todo o conhecimento.
Na tentativa de responder a estas questões, diversos filósofos divergiram entre si, mas se tem algo que se pode dizer com clareza é que todos consideram dois aspectos fundamentais: a razão e a sensação.
Aqueles que afirmam que a razão é a fonte de todo conhecimento seguro geralmente são guiados pela ideia de que as sensações, os sentidos, por vezes podem enganar. Por exemplo, poderia argumentar, contra alguém que defende que a fonte do conhecimento é a sensação, dizendo que vemos (portanto percebemos) o sol de um determinado tamanho, mas sabemos, porque usamos a razão, que ele é muito maior do que parece. Não obstante, esse alguém pode contra-argumentar dizendo que eu sei disso porque, ao observar coisas a diferentes distâncias, percebo que quanto mais longe elas estão menores parecem. No fim das contas, a fonte ainda continua sendo a sensação.
Durante muito tempo esse foi um impasse entre os filósofos, sensação ou razão. Nessas condições, de onde provém o conhecimento?

1.3 Racionalismo

Racionalismo é a corrente filosófica que afirma que a razão é a única fonte segura para o conhecimento. O principal expoente do racionalismo é o filósofo francês René Descartes, o qual defendia que não se pode aceitar nenhuma proposição ou ideia como verdadeira a menos que seja clara, distinta, evidente por si mesma.
Para chegar à primeira verdade indubitável, Descartes usa quatro regras básicas:
A evidência: não aceitar algo como verdadeiro a menos que se mostre evidente;
A análise: dividir os problemas em partes simples para uma melhor resolução;
A síntese: concluir os pensamentos na ordem dos mais simples e fáceis para os mais complexos e difíceis;
E o desmembramento: enumerar as informações de forma exata e sem omissões.
Do uso dessas regras, Descartes chega à sua famosa máxima: “penso, logo existo”, que é conclusão de alguns argumentos: a falibilidade dos sentidos, o argumento do sonho e o gênio maligno. Vejamos como ele chegou a essa conclusão.
[...] Mas eu me persuadi de que nada existia no mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem corpos alguns; não me persuadi também, portanto, de que eu não existia? Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que eu me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira todas as vezes que a enuncio ou a concebo em meu espírito.
Assim, Descartes consegue chegar à primeira ideia ou proposição indubitável: “penso, logo existo”. Concomitantemente, Descartes assume que a ideia de perfeição, infinitude ou eternidade só poderiam ser derivadas de um ser que possuísse tais atributos e que, por isso, fosse bom. Este ser, não obstante, só pode ser Deus, que, sendo bom, não poderá nos enganar jamais. Disso se segue que podemos conhecer o mundo ao nosso redor.

1.4 Empirismo

Corrente filosófica que afirma que o conhecimento, em última instância, deriva da experiência, seja de forma direta ou indireta. Pode-se dizer que dois de seus maiores representantes são John Locke e David Hume.
John Locke defendia que a mente humana é como uma tabula rasa, na qual são impressas as experiências, o que implica na não existência de ideias inatas. O filósofo inglês dividia as ideias em:
Ideias da sensação: que são as ideias que chegam a nossa mente através dos sentidos (cor, temperatura, sabor, etc.);
Ideias da reflexão: que resultam de um processo de combinação e associação das sensações através da atividade da reflexão (perceber, pensar, crer, raciocinar, etc.).
Desse modo, das ideias mais simples, a mente poderia chegar às mais complexas, sempre tendo como ponto de partida as coisas materiais externas. No entanto, Locke não era um empirista radical, pois admitia que o conhecimento matemático não se baseia na experiência, mas em fundamentos lógicos.
David Hume, por seu turno, também defendia que o conhecimento se deriva da experiência, que tudo que ocorre em nossa mente são fruto de percepções. O filósofo escocês dividia as percepções em:
Impressões: que são os dados fornecidos pelos sentidos;
Ideias: que são as representações mentais.
Para Hume, as impressões são mais fortes e claras do que as ideias. Além disso, as ideias são simples, quando apenas reproduzem as impressões sem alterá-las, e compostas, quando combinam as ideias simples. Ex: “cavalo alado”, onde se pega a ideia de “cavalo” e de “asa” e as colocam juntas; e “montanha de ouro”, onde se combinam as ideias simples de “montanha” e “ouro”. Esse processo responsável pela produção das ideias é chamado de associação de ideias.

1.5 Criticismo

Criticismo é a corrente filosófica que defende que nem somente a experiência nem somente a razão podem resolver o problema das fontes do conhecimento. Seu fundador, Immanuel Kant, dizia que o conhecimento tem duas fontes: a sensação e o entendimento (razão), onde a primeira recebe os dados dos sentidos e o segundo os organiza.

Kant ainda assinala que há dois tipos de conhecimento:
Empírico: que se refere aos dados fornecidos pelos sentidos, sendo posterior a experiência (diz-se que é um conhecimento a posteriori).
Puro: que não depende dos dados dos sentidos, sendo anterior a experiência (diz-se que é um conhecimento a priori). Esse tipo de conhecimento apresenta os juízos universais e necessários.

Quanto aos juízos, o filósofo de Konigsberg os classifica em:
Analíticos: aqueles cujo predicado está contido no conceito do sujeito. Ex: “o quadrado tem quatro lados”.
Sintéticos: aqueles cujo predicado não está contido no sujeito. Ex: “os corpos se movimentam”.
Quanto à valoração, os juízos podem ser:
Analítico: quando tem a finalidade de elucidar algo que já se conhece do sujeito. Ex: “Um triângulo tem três lados”.
Sintético a posteriori: quando amplia o conhecimento sobre o sujeito, mas sua validade está condicionada ao tempo e espaço em que se dá a experiência. Ex: “a capa do livro é azul”.
Sintético a priori: quando amplia o conhecimento sobre o sujeito e não está sujeito ao tempo e espaço em que ocorre a experiência. Ex: “a soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer equivale a 180 graus”. Para Kant, esse é o tipo de enunciado mais importante para a ciência.
Posto isto, deve-se lembrar de que Kant inverte a ótica que até então prevalecia, que colocava o objeto no centro do processo do conhecimento. Kant coloca o sujeito como centro desse processo, uma vez que as formas a priori do entendimento é que regulavam o conhecimento. Isto ficou conhecido como a nova revolução copernicana.
Para Kant, nós apreendemos os dados dos objetos através da sensibilidade, mas o entendimento determina as condições pelas quais o objeto é pensado. As formas da sensibilidade, não obstante, são o tempo e o espaço.

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