terça-feira, 30 de abril de 2013

Saudades

As vezes sinto saudades...
Saudades daquele tempo, bons tempos!
Tudo era belo, infinito em cores, perfeito.
As árvores ofereciam suculentos frutos.

E o vento?
Há! Ele sempre acariciando meu rosto,
Revigorando as forças,
Tornando-me disposto.

Corrida entre as flores do campo...
Prefeito.
Anoitecer? Sim, mas antes mamão coloca seu filhinho na cama e...
É lindo vê-lo pegar no sono.

Agora faz frio e que doce ar gelado que me toca,
Que me faz parar de pensar e me conformar com o perfeito.
A propósito, nunca viu-se tantos perfeitos.

Nascer do dia - perfeito,
Caminhada até o lago- Perfeita,
Beijo de namorada - perfeito,
Cruzar de mãos perfeito...

Não!
Desculpe, preciso parar...
E que são muitas as saudades.

Saudades daquele tempo
Que existe onde não há existência,
Mas lá onde surgem as existências.

Lugar desprovido do real.
Sinto saudades desse tempo passado,
Tempo tal qual não vivi

Exceto na minha mente
Que tão ingênua se ilude.
Definitivamente, sinto saudades,
Mas a responsabilidade não me deixa fechar os olhos.

Imensas saudades,
Mas preciso afirmar quem sou.
Não, apesar das saudades
Pro mundo da irrealidade...
Não quero voltar.

O último dos poetas

Alguém sabe onde está o último dos poetas?
Onde terá este se perdido?
Terá se arrependido?
O que nos resta?

Tudo que ele disse nunca foi ouvido
O que escreveu nunca foi lido
O que ele sentiu foi massacrado
Fugiu confuso, arrasado.

Fugiu de si e por si
Correu para além de tudo
Onde só se pudesse ver o mundo
Mas o mundo que não é pra si.

Onde estará o último dos poetas?
Escrevendo versos de amor em vão
Versos que ela nunca vai ler
E ela é quem lhe furtou o coração.

Onde estará o homem adolescente?
Pensando na sua doce e amarga amada
Levando a dor no peito e a confusão na mente
Perdido na sua própria estrada.

Onde estará o último dos poetas?
Quem poderá dizer?
Onde está o último dos poetas?
Também não sei.

Eu sou...

Eu sou... E sou...
Sou aquele que mente
Finge que não sente
Esquece o que não conquistou

Que viaja para além...
Além do que se pode sentir
querendo não admitir
o bem-mal que lhe sobrevém

Eu sou a luz do contra-senso
que não se acende ou apaga
Luz que trás o escuro e brilha intenso
nesse equilíbrio que me afaga

Aquele que esquece de si mesmo
mas não se esquece de quem é, sozinho.
Que sabe que não sabe saber o termo
pelo fato de tal termo ser carinho

Eu sou o ignorante consciente
que não luta pela mulher amada
mas sou o que se auto convence a, contente
querer o amor a liberdade não alcançada.

Antônio Bertulino

Lá se vai Antônio Bertulino
Com a chupeta do poder na mão
Seguindo sempre seu trágico destino
Que o transformara num político chorão

Fazia tudo conforme aprendera outrora,
Dando ouvidos à voz de velho pai,
Paga-se a ausência do amanhã com o auxilio de agora
Enganando o tolo que, com lamentos, sempre cai

E lá se vai fingindo importar-se com quem enganou
Deixando pra trás tudo que ficou
Querendo convencer-se de que quer para tais o não pior
E não é que se importe, mas assim mente melhor

Fazendo discursos melancólicos e plausíveis
Com eloquência herdada de sua avó Bertuliana
E esta dizia pra sermos e não sermos insensíveis
Afinal, Bertulininho, quem não chora não mama.

Confusão

Como eu faço pra saber quem sou, onde estou e do que eu gosto?
Quem sera capaz de me fazer bem?
Eu mesmo?
Não sei.
Não tenho sabido de nada ultimamente
E tudo que eu digo são palavras que só me confundem mais.
Onde está a paz que me disseram?
O que é a paz? onde ela mora?
Dúvidas e dúvidas batem a porta e sempre as deixo entrar
Só não sei o porque.
Todos os dias da minha não vida eu tento me contentar
Só não sei com o quê.
E tudo que sempre concluo sobre o que sei
É que não sei saber quem sou
E embora saiba onde estou
Não sei do que ou quem eu gosto.

O poeta quer ser filósofo

O poeta quer ser filósofo
Ele ajeita a cadeira, senta e pensa
Por que não consigo pensar? Ele pensa.
O poeta quer filosofar,
Mas ele ainda esta apaixonado por ela
E ela não lhe traz boas lembranças
Mas ele parece não se importar.

Ah! O poeta quer ser filósofo
Ele fixa o olhar e faz o discurso
Fala de tudo que não passa em sua mente,
Mas, ó céus, o poeta roubou um beijo
Mas dessa vez não foi como na primeira vez

Calma! O poeta quer apenas ser filósofo
Procura entender sua angústia e aceita os cortejos da mulher que o ama
Mas essa não é a que lhe trás lembranças.

Ó céus, deixem-me filosofar! Exclama o poeta.
Acalma-se e se convence estar racional
Ouve as músicas de ontem e estas não lhe fazem bem
O poeta chora, supera, fica melancólico,
Foge de si, se enfrenta, sorri.
O poeta faz uma música, faz uma poesia,
Casa com a solidão e a faz feliz,
Mas, ó céus, o poeta queria ser filósofo!

Soneto do poeta-filósofo



Ela olhou de longe e sorriu para o poeta
Ele agora tem mais uma inspiração
Logo ele que nunca se aquieta
Mas que nunca entrega o coração

E com os olhos fixos ele a fita encantado
Olhos nos olhos, faz a aproximação
Senta. Boa conversa! Ó poeta delicado!
Mas que desafinado desiste da canção

Não. Não tenho tempo pra amar – diz o poeta.
Ser filósofo talvez me deixe contente
Ou qualquer coisa que não gente.

Mas os sorrisos continuam a te balear, ó poeta!
Que tão frágil, docil e, por dizer, inocente
Sempre esquece: filósofo também sente.