sexta-feira, 30 de junho de 2017

UMA BREVE INTRODUÇÃO À FILOSOFIA



1 Filosofia

A maioria dos estudiosos defende que a FILOSOFIA surge na Grécia Antiga, por volta do século V a. C., como uma forma alternativa de abordar os temas relacionados à totalidade da vida humana, que até então eram tratados apenas pelo MITO.
Pitágoras de Samos (588-524 a. C.) foi o criador do termo filosofia, que vem do grego PHILO, que significa sentimento de afeto, amizade ou amor fraterno, e SOPHIA, que significa sabedoria. Assim, o termo PHILO/SOPHIA significa algo como: amigo ou amante do saber (da sabedoria).
Entretanto, ao longo da história a filosofia se caracterizou pela discussão e problematização das questões consideradas mais fundamentais aos seres humanos. Por exemplo, Aristóteles afirma que a filosofia é a mais nobre de todas as ciências por ser a ciência acerca das causas primeiras (METAFÍSICA, Livro I, cap, II). Para este filósofo estas causas são as mais nobres porque representam o conhecimento do que é mais elevado e primeiro. O filósofo, segundo Aristóteles, embora não tenha o conhecimento de cada coisa em articular, tem o conhecimento geral porque conhece a causa primeira.

1.1 Origem

Segundo Giovanni Reale e Dario Antiseri, a FILOSOFIA surge na Grécia por conta do modo de vida próprio do povo grego, que propiciava o exercício ao pensamento abstrato e livre. Alguns destes fatores são: a moeda, a escrita, a religião grega e a liberdade política.
MOEDA: Propiciava o exercício da abstração por um lado e o acúmulo de riquezas, que propiciava o ócio contemplativo, por outro.
ESCRITA: Permitia o registro das ideias e dos fatos históricos, assim como estimulava a abstração.
RELIGIÃO: Não apresentava um Livro Sagrado, o que permitia a livre expressão religiosa. Pode-se dividi-la em: RELIGIÃO PÚBLICA E ÓRFICA (Orfismo). A RELIGIÃO PÚBLICA apresentava os DEUSES como homens amplificados, forças da natureza e ações humanas.
POLÍTICA: A Grécia era composta por pequenas colônias independentes entre si, o que propiciava um ambiente de livre pensamento e discussão política.
Outros fatores também contribuíram para o surgimento da filosofia, como a vida na Pólis e as Navegações Marítimas, por exemplo.

1.2 Filosofia e Mito

Como dito anteriormente, a filosofia surge como um discurso alternativo ao mito. Mas o que é Mito?
Mito era uma narrativa que tinha o objetivo de explicar a totalidade das coisas. Pretendia explicar desde as coisas mais simples, como a fúria dos mares, até as mais complexas, como a origem do universo. Não obstante, o discurso mítico apresentava características peculiares: era uma narrativa fantasiosa; recorria a eventos ocorridos em função das ações dos deuses em um tempo imemorável e era transmitido através da oralidade, sobretudo através das cantigas dos poetas-rapsodo. Essa tentativa de explicação mítica era conhecida como uma cosmogonia, uma vez que fundava a origem de tudo nas ações dos deuses.
A filosofia também possuía a pretensão de explicar a totalidade das coisas, porém o fazia através de uma cosmologia, que seria uma explicação racional do universo. Deste modo, os primeiros filósofos tentaram responder as questões abordadas pelo mito sem recorrer a eventos ou seres sobrenaturais, fazendo uso somente da razão.


1.3  Fases da filosofia

Para a facilitação do estudo da filosofia, costuma-se dividi-la em algumas fases. Vejamos:

FILOSOFIA ANTIGA (CLÁSSICA): subdivida em quatro períodos: pré-socrático, socrático, sistêmico e helenístico.
Pré-socrático (VI ao V a. C.): Período correspondente às primeiras investigações filosóficas acerca do cosmos (mundo ordenado). Os filósofos pré-socráticos, não obstante, são aqueles que se ocupam deste tipo de investigação, sendo que muitos deles eram contemporâneos de Sócrates.
Socrático (V ao IV a. C.): Período correspondente ás investigações de Sócrates e seu pupilo Platão. Tal investigação migrava do ramo da cosmologia para a conduta humana. Um filósofo pré-socrático tentava responder questões do tipo “como e de onde surgiu o universo?” e um filósofo socrático questionava sobre a melhor forma de viver, “o que é o bem?, o que a justiça?, o que é belo?” e coisas do tipo.
Sistêmico (IV ao III a. C.): Período correspondente às investigações de Aristóteles, discípulo de Platão, e seus próprios pupilos. Se Platão escrevia suas investigações através de Diálogos, Aristóteles organizava suas investigações de forma sistemática. Daí o termo “sistêmico” para denotar esse período.
Helenístico (III a. C. ao VI d. C.): Período correspondente à decadência da civilização grega, onde a problemática central passa a ser a busca pela felicidade. Nesse período destacam-se escolas como o cinismo, epicurismo, ceticismo e estoicismo.

FILOSOFIA MEDIEVAL (I ao XIV): Apresenta como característica a influência do Cristianismo e a apropriação da filosofia grega para a solução de problemas relacionados ao aparente conflito entre e razão e ao problema do mal. Além disso, destacam-se as provas produzidas por Santo Tomas de Aquino sobre a existência de Deus.

FILOSOFIA MODERNA (XVII ao XVIII): Caracteriza-se pela crítica à autoridade advinda da filosofia grega, pela fundação das bases da ciência moderna e pelo desenvolvimento de teorias acerca do conhecimento, a saber, o racionalismo e o empirismo. Nesse período também há uma supervalorização da razão e uma crença de que o conhecimento resolveria os problemas da humanidade. É desse período que vem a ideia de ordem e progresso.

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA (XX à atualidade): Caracteriza-se pela crítica da razão, dos valores tradicionais advindos da cultura grega e a crítica aos valores e a organização da sociedade capitalista (marxismo, escola de Frankfurt). Além disso, surgem duas grandes correntes filosóficas: a fenomenologia e a filosofia analítica.


 1.4  Filosofia e suas temáticas

As investigações filosóficas podem ser organizadas em grandes temáticas, quais sejam:

EPISTEMOLOGIA: Se configura como o estudo (logos/logia) acerca do conhecimento (episteme), investigando suas fontes e suas condições de possibilidade.
METAFÍSICA: É a investigação acerca do que está para além (meta) da física, para além dos fenômenos perceptíveis. Quando o estudo se volta para o SER, aplica-se o termo ONTOLOGIA.
ÉTICA: Se configura como o estudo do bem. Neste campo cabe ao filosofo explicar o que faz com que uma ação seja justa, bela e boa ou injusta, feia e má. Outro modo de dizer isso é: o que faz com que uma ação seja correta ou incorreta. Em última instância, a ética tem como objetivo responder a questão: como ser feliz.
POLÍTICA: Neste campo, o filósofo investiga sobre a função das instituições políticas, sobre as origens do ESTADO e suas possíveis formas. A preocupação central é teorizar sobre a melhor forma de organização política possível.
LÓGICA: Estudo do raciocínio e da argumentação. Neste campo o filósofo propõe cânones que auxiliam a estruturar formal e simbolicamente os argumentos. Isso tem a intenção de mostrar quando e porque um argumento é válido ou inválido, correto ou incorreto. A Lógica pode ser formal ou informal, onde a primeira é dedutiva e a segunda indutiva. O primeiro grande lógico foi Aristóteles, que formulou o que hoje nós chamamos de Lógica dos Predicados.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Mito x Cosmologia

Olá, leitores!

Ultimamente decidi utilizar este espaço não somente para publicar alguns de meus poemas, mas também para compartilhar conhecimentos sobre FILOSOFIA, com o intuito de oferecer mais uma fonte de estudo para quem quer ter contato com a filosofia, sobretudo quem se prepara para vestibulares.

Então, vamos nessa! Nossa primeira postagem será sobre Mito e Cosmologia (isto mesmo, a Cosmologia, que foi a primeira proposta filosófica).

O que é MITO?

Mito (do grego Mytheo) é antes de tudo uma narrativa. 
Quais são as características dessa narrativa? 
Então, o Mito é uma narrativa que recorre a acontecimentos (geralmente implicam em ações de deuses) que ocorreram em uma "idade de ouro", em um tempo imemorável. Portanto, ninguém testemunhou tais acontecimentos. E estes acontecimentos explicam basicamente a totalidade das coisas. Através das narrativas míticas, os homens encontravam explicação para acontecimentos naturais, como o nascer e pôr do sol, a chuva, o movimento das marés; acontecimentos culturais e políticas, como a caça, o relacionamento amoroso, as guerras; e até para a origem do universo e do homem, explicando inclusive as suas frustrações em relação à vida.

Como o Mito era transmitido?
Os mitos eram transmitidos através da tradição oral, onde os poetas chamados de aedos ou rapsodos eram responsáveis por viajar de cidade em cidade cantando essas narrativas. Esses poetas tinham uma autoridade inquestionável, portanto, todos aceitavam seus discursos como verdadeiros. Eles eram como mestres da verdade.

Outra coisa importante que você precisa saber sobre o Mito é que ele utiliza uma linguagem simbólica (em oposição a uma linguagem conceitual, que é própria da filosofia). Isto significa que o discurso mítico requer uma interpretação e que, mesmo que os acontecimentos narrados não tenham existido de fato, não é correto definir o mito como sendo falso, pois a mensagem por trás da linguagem simbólica pode ser verdadeira.

Um dos Mitos mais famosos da história é PROMETEU, que roubou o fogo dos deuses, dando-o aos mortais. Para assistir e ouvir um resumo dessa narrativa, clique no link abaixo:



Agora passemos ao próximo ponto, a COSMOLOGIA.


A Cosmologia foi a primeira tentativa de explicar a origem do Universo (enquanto COSMOS = mundo ordenado) sem recorrer ao Mito. 

Como isso aconteceu?

Bem, primeiro que os Mitos explicavam a origem do Universo através de ações dos deuses lá naquele tempo imemorável (a idade de ouro), enquanto que a Cosmologia (com os filósofos da physys = natureza) tentava solucionar esse problema olhando para a natureza e buscando postular um princípio originário (que eles chamavam de arché). 

Já foi possível perceber, então, que os primeiros filósofos buscavam encontrar o princípio de onde "surgem as coisas", pelo qual "as coisas se sustentam" e para onde "as coisas irão findar". Ou seja, a arché é o "princípio, o meio e o fim" de tudo.

Ao tentar responder a essa questão, surgiram várias propostas, as quais podem ser classificadas em Monistas e Pluralistas.

Monista: proposta que postula a existência de um único elemento como princípio primeiro de tudo. Dentre os monistas, destacamos a Escola de Mileto, composta por Tales, que defendia que o princípio era a água; Anaximandro, que postulava o ilimitado (apeiron); e Anaxímenes, que dizia que o princípio de todas as coisas era o ar.

Pluralista: proposta que postulava mais de um elemento como origem das coisas. Dentre os pluralistas, destacamos Empédocles, que afirmava que tudo que existe é composto por quatro elementos: água, terra, ar e fogo. O que diferenciaria uma coisa de outra seria somente a proporção de cada elemento. Não obstante, o AMOR juntaria estes elementos, fazendo-os via a ser, e o ÓDIO (discórdia) os separariam, fazendo-os vir a corrupção.

Também é digno de nota na COSMOLOGIA uma discussão sobre o SER (portanto, uma discussão ONTOLÓGICA), que tem de um lado HERÁCLITO, defendo o movimento, pois tudo muda, tudo flui, "não se pode entrar duas vezes no mesmo rio", e do outro PARMÊNIDES, defendendo a imobilidade do ser, pois não se pode passar do SER para o NÃO-SER, "o ser é e não pode não-ser" e vice versa. Explicando melhor, o movimento implicaria na existência do vazio e o vazio é o não-ser. Para Parmênides, o que existe não pode não existir, então era absurdo que algo existisse, deixasse de existir e viesse a existir de novo. Essa era a causa porque negava o movimento.

Ok! Mas, como posso diferenciar melhor o Mito da Cosmologia?

Simples. O Mito recorre a fantasia, a Cosmologia recorre a observação racional da natureza; O Mito utiliza uma linguagem simbólica, a Cosmologia se utiliza de uma linguagem conceitual; O Mito admite contradição, a Cosmologia não. Além disso, não esqueça que a Cosmologia foi a primeira investigação filosófica, portanto, todos os pensadores cosmológicos são filósofos.

Bem, acredito que estas informações são de grande auxílio na hora de responder questões de prova ou mesmo para matar a nossa nobre curiosidade. 
Esse post, no entanto, não entra na cosmologia de forma aprofundada, de modo que suprirei essa necessidade em outro momento. O objetivo aqui é ter uma visão panorâmica e diferenciar bem o Mito da Cosmologia.


Forte Abraço e até breve,
Kytto Correia!