terça-feira, 24 de junho de 2014

Medo

Eu sempre tenho medo
Tenho medo quando me esqueço de acordar
Às vezes até sorrio em segredo
De tanto medo que me dá

Medo quando você vai embora
Medo quando você se aproxima
Medo quando você, fragilmente, chora.
Minha consciência até me discrimina.

É que eu queria amanhecer sem medo,
Queria evitar o medo eternamente.
Mas não se pode fazer tal. Peço-te segredo.
Apenas abrace-me ardentemente.

Nos seus braços frágeis e sob seu riso doce
O medo se foge no finito infinito momento
Que em tua presença me protejo como se fosse
Os teus braços, o mais suave vento.

É que contigo eu sou livre a voar.
Voar sobre as nuvens da covardia.
Enfrento e aceito o medo de respirar
Em teu amor felicito-me em alegria.


Idiota

Idiota sou eu... Mas por quê?
Não gosto de ser furtado
Idiota sou eu... Com o quê?
Com tudo que sofro calado

Às vezes desabafo,
Mas gosto de pão e circo.
Outras vezes apenas disfarço,
Prefiro é calar o bico.

Idiota sou eu... É duro saber.
Ando pelas ruas encabrestado.
Por que tão idiota? Pudera me dizer
O quanto me sinto violentado.

Idiota sou eu... Grito quando muda o placar
Esqueço que sou eu quem paga o salário
Daqueles que, sorridentemente e sem disfarçar,
Me chamam, constantemente, de otário.

COMEMOREM

Comemorem todos os reles mortais
Cantem enquanto a grama verde asfixia
Gritem a cada chute a gol a mais
Festejem a copa da hipocrisia

Comemorem, ó autênticos brasileiros!
Vós que não precisais de escolas e hospitais
Vós que tendes já tanto dos teus dinheiros
Que não liga se te furtam um tanto a mais.

Comemorem todos, a imbecilidade nossa de cada dia.
Cantem para o mundo o quanto somos uma sábia nação
Trocamos direitos e o futuro por toda e qualquer folia
Esbanjamos a nossa escassez de educação.

Comemorem todos vós, ó cegos covardes!
Cantem o orgulho de ser preguiçoso e imbecil
Vibre a cada fatia de pão, cegos covardes!
Que eu, resignado, espero a chegada do meu Brasil.

Versos de futebol

A convocação, tão distintamente, já foi anunciada,
Ligaram-se, um por um, todos os televisores.
Compram-se os ingressos, enchem-se a arquibancada,
O coração do brasileiro palpita de amores.

Os gringos vieram, como vieram...
Pedaços do mundo vieram compartilhar
Os calores esqueceram. Mas se não trouxeram,
Podem, alegremente, nosso ar quente respirar.

O pé chuta a bola, o coração grita gol!
A bola, tímida, nos seios da rede vem morar.
O craque comemora. A torcida dá o show.
O hexa esperamos, ansiosamente, abraçar.

Das arquibancadas vem o grito do brasileiro
Que ama seu país com orgulho e amor
Nos gramados o sentido de um milênio inteiro
Que, sem lembrar nada, anestesia do peito a dor.

Sou brasileiro, logo sou boleiro.
Vibro com cada grito de bola na rede.
Sou brasileiro, logo sou artilheiro.
Com essa paixão mato minha sede.

Arlindo

Arlindo é feio, pois lindo não é.
Pois se Arlindo fosse lindo
O feminino o aplaudiria de pé,
A luz não revelaria o que ele não quer
E não se envergonharia de está sorrindo.

Arlindo é feio, pois lindo não é.
Pois se lindo fosse Arlindo
As mulheres o mandariam beijocas,
Não lhe dariam sempre as costas
E eu, dele, não estaria rindo.