sábado, 3 de agosto de 2013

Pedido a não-mais-donzela

E, mais uma vez, está ela andando pelos vales.

Seus vales que de tão altos deixavam de o ser,

Mas que de tão profundos mostravam a contradição.

E lembra-a de que ser poeta é viver nesta

Que a verdade as vezes engana

E quando engana machuca

Mas quando não engana machuca ainda mais.


Concluia, a não-mais-donzela

Que a inocência é uma invenção

Que o amor é a tentativa de se encontrar

Mas que tentativa frustrada quando não se encontra

É que o amor, pensava a não-mais-donzela,

O amor mata e quando não mata põe um fim à vida.


Ah! Quem dera o amor da não-mais-donzela.

Ela que já provou do doce do eros

E quão amargo lhe foi o doce

Ela que mergulhou num dia de chuva

E quão suja saiu do banho

Ah! Doce não-mais-donzela!

Ah! Que pena que só ideia és!


Pena que as não-mais-donzelas reais estão tão distantes

E que as ainda-donzelas apenas sonham.

Sonham com o que lhe é perfeito

Contudo ainda não sabem que o perfeito machuca


Ah! Não-mais-donzela!
Minha doce inteligível amiga!

Que triste felicidade temos descobrido!

Que tão péssimos melhores amigos temos feito!

E que tão amargo doce beijo temos provado.

Não me deixe, não-mais-donzela, não me deixe!

A vida sem sonho pode ser muito dura

Mas, dos meus sonhos, és o que me lembras disto

Dos meus sonhos, ó cara inteligível amiga

Dos meus sonhos és mais real que o real.

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